quinta-feira, 12 de outubro de 2017

10 coisas que toda pessoa que quer fazer teatro precisa saber


Interessado em subir ao palco? Se liga o bico de luz nessas dicas!
1. Todo papel é um papel
O que eu vejo muito nesse meio, me contou um certo diretor, é gente achando que, se você não for protagonista, não vale a pena. Muito se esquece que não existe Hamlet sem Horatio. Não existe Aquiles sem Pátroclo. Não existe Paola sem Paulina (pera…). Todo papel é um papel. Uma hora você está no coro, uma hora no holofote central, e ambas as posições têm a mesma importância no desenvolvimento da história que você quer contar. Aprender isso é o primeiro passo para fazer a coisa toda valer a pena.
2. Leia. Leia mais. Leia de novo. Leia em outro idioma. LEIA
Ler faz bem pro cérebro, aumenta o seu léxico, trabalha a sua sensibilidade e amplia a sua visão de mundo. Com uma melhor percepção das nuances que compõem a vida humana, você é capaz de entender melhor as falas e os diálogos e tudo aquilo que está por detrás deles – o que, na verdade, é o que realmente importa. Sem subtexto, não tem atuação. Um subtexto pobre… adivinha?
3. Menos é mais
Seu personagem é um homem humilde que, a pedido de seu chefe, um milionário fanfarrão, precisa guardar cinco mil reais em sua casa. Ao ouvir o chamado da irmã, que está no quarto ao lado dando um banho em seu bebê recém-nascido, deixa as notas em cima da mesa da sala. Nesse meio tempo, o outro filho da irmã, um pouco mais velho e aborrecedíssimo de ciúmes, decide chamar atenção da família ao botar fogo nas notas. Seu personagem sente o forte cheiro de queimado e volta correndo. Empurra a criança endiabrada e tenta apagar o fogo. A maior parte das notas já era. O molecote, ao cair no chão, abriu a cabeça e agora sangra no tapete persa. Começa o berreiro. A mãe do menino meio morto entra na sala e se atira ao chão, tentando salvá-lo. No outro quarto, o bebê abandonado se afoga na banheirinha.
Como você reagiria? Berraria, se atiraria no chão, arrancaria chumaços de cabelo e comeria, sempre de olhos muito arregalados e babando espuma, quase como se quisesse canibalizar o bebê morto? Tentaria salvar o bebê, deixando sua irmã para tentar resolver a outra situação, sempre pensando no dinheiro, no cadáver, no bebê, na sua vida que de repente virou de pernas para o ar? Se isso realmente acontecesse, você teria estômago para algo além de sentar no chão e chorar?
A gente sabe que é preciso exagerar um pouco no teatro, mas tudo tem hora e tamanho adequados. Todas as reações têm uma razão. Não ignore o psicológico do seu personagem: isso pode destruir sua construção, sua cena e, possivelmente, todo o seu trabalho. É difícil? Para caramba. Mas a prática leva à perfeição.
4. Não tenha medo do ridículo.
O personagem pede para que você babe e cuspa? Então babe e cuspa. Em determinada cena você precisa arrancar as calças, rasgá-las e comer um pedaço delas? Tente não engolir de verdade, mas faça tudo o que for preciso para que a platéia se engasgue de nojo pensando que você realmente comeu os seus jeans esgarçados. Não se trata de aceitar qualquer papel, mas não perca os papéis geniais por causa de algumas cenas com pouco glamour. O ridículo às vezes faz parte.
5. Nem sempre é pessoal
Você acha que fez um bom trabalho, mas alguém te chama de cantinho e diz que você gritou demais, que a sua movimentação estava exagerada, que seus gestos não condiziam com as suas falas. Você tem duas opções aqui: se deprimir e reagir grosseiramente, ou agradecer e refletir. Será que você não gritou mesmo? Será que, no meio da cena, não se empolgou demais e acabou fugindo do foco? Tudo isso pode acontecer, e ser avisado de que passou dos limites é um ótimo meio de se controlar e evitar que isso aconteça de novo.
Nem sempre é pessoal. Até pode ser, mas você vai saber quando for (não seja paranóico). Na maior parte do tempo, é só feedback mesmo.
6. Ensaiar é preciso
Texto decorado, mãos à obra: ensaie. Ensaie com vozes diferentes, com velocidades diversas, comendo farofa e assobiando, levando tapas na cara de cabeça para baixo. Ensaie até você ficar com raiva do texto, mas saiba perdoá-lo pela insistência. As repetições treinam o corpo e o emocional e, depois de um tempo, você acaba naturalizando suas falas, ações e atitudes. Você e o personagem viram um – o que, não é preciso nem dizer, só “facilita” e melhora o seu trabalho.
7. “SEJE MENAS”
Reproduzindo um conselho incrível que recebi recentemente: Você tem dois meses de teatro no currículo? Ótimo. Tem cinco? Lindo. Tem dez anos? Maravilha. Nada disso te faz ser menos estudante e te dá o direito de ignorar conselhos ou feedback e de achar que não pode errar. Cuidado para não estagnar, e trabalhe sempre na humildade.
8. Observe outros atores em ação, e analise as especificidades de cada um
Não só faça: prestigie quem faz. Assista a um filme antigo e depois, ao seu remake. Veja atores diferentes dando vida ao mesmo personagem (Jack Nicholson e Heath Ledger, por exemplo. Mads Mikkelsen e Anthony Hopkins também).
Se possível, tente ver o mesmo texto sendo executado por companhias diferentes. Isso é sensacional para perceber o trabalho de criação de cada ator. Duas pessoas podem ser Blanche Dubois, fazendo as mesmas cenas e falas, e dificilmente as cenas serão iguais em termos de emoção, ritmo e atuação. Depois disso, faça a sua Blanche. Ou o seu Coringa. Ou o seu Hannibal Lecter.
9. Faça cursos livres e desenvolva novas habilidades
Cante, dance, sapateie. Cozinhe, aprenda contorcionismo, fale alemão. Faça um curso de direção. Aprenda a fotografar. Tire carteira de motorista. Medite. Estude a mesma coisa sob o prisma de diferentes profissionais. Escreva. Todas estas coisas parecem não ter nada a ver com atuação, mas estão totalmente ligadas ao trabalho do ator. Quanto mais você souber, mais o seu personagem saberá. Todos os lados saem ganhando.


10. Coma devagarzinho, com talher de sobremesa
O nervoso atrapalha tudo e é inevitável, mas tente se controlar. Quando você sobe no palco ou filma alguma coisa, aquele é o seu momento. Aquele é o seu espaço. Toda a equipe que está trabalhando com você confia na sua capacidade e acredita que você vai fazer o seu melhor, então faça… e aproveite. Ouse mesmo. Não corra e tente fazer tudo terminar depressa. Sinta prazer na sua arte: é pelas endorfinas liberadas pelo amor que você está lá.